O objetivo de Clarice, em suas
obras, é o de atingir as regiões mais profundas da mente das personagens
para aí sondar complexos mecanismos
psicológicos. É essa procura que determina as características
especificas de seu estilo.
O enredo tem importância secundária. As ações-quando
ocorrerem- destina-se a ilustrar características psicológicas da personagem.
São comuns em Clarice histórias sem começo, meio ou fim. Por isso, ela
se dizia, mais que uma escritora, uma “sentidora”, porque registrava em
palavras aquilo que sentia. Mais que histórias, seu livros apresentam
impressões.
Predomina em sua
obra o tempo psicológico, visto que o narrador segue o fluxo do
pensamento e o monólogo interior das personagens. Logo, o enredo pode
fragmentar--se. O espaço exterior também tem importância secundária, uma
vez que a narrativa concentra-se no espaço mental das personagens.
Características físicas das personagens ficam em segundo plano. Muitos
personagens não apresentam sequer nome.
As personagens criadas por Clarice Lispector descobrem-se
num mundo absurdo; esta descoberta dá-se normalmente diante de um fato
inusitado- pelo menos inusitado pela personagem. Aí acontece a “epifania”,
classificado como o momento em que a personagens sente uma luz iluminadora de
sua consciência e que a fará despertar para a vida e situações a ela
pertencentes que em outra instância não fariam a menor diferença.
Esse fato provoca um desequilíbrio interior que
mudará a vida da personagem para sempre. Para Clarice, “Não é fácil escrever. É
duro quebrar rochas. Mas voam faíscas e lascas como aços espelhados”. “Mas já
que se há de escrever, que ao menos não se espague com palavras as
entrelinhas”. “Minha liberdade é escrever. A palavra é o meu domínio sobre o
mundo.”
Para traduzir os estados emocionais do personagem, Clarice
utilizará todos os recursos possíveis:
a)
Emprego da técnica surrealista, em que a
narrativa vai brotando à mercê do fluxo de consciência.
b)
A linguagem, como é comum no (Pós) Modernismo,
apresenta traços da linguagem colonial em que normas morfossintáticas
não são observadas. A autora pretende adequar a linguagem à personagem, fazendo
registro do seu modo de falar.
c)
A autora não se preocupa em contar uma história.
d)
Uso de metáforas incomuns e questionamentos
filosóficos metafísicos.
e)
Monólogos interiores e discurso narrativo que
busca a criação de uma supra realidade pessoal e poética.
f)
Busca consciente de liberação e de
mutação na maneira de viver por parte das personagens que, no fundo, são a
própria Clarice.
g)
Presença de seres frágeis e irracionais.
Resumidamente Clarice cria uma personagem que se encontra
numa determinada situação cotidiana,
preparando posteriormente um evento
que é apresentado discretamente pela personagem (algo como uma inquietação). Ao decorrer desse fato,
ocorre um momento que ilumina a sua vida (epifania).
Apresenta-se um desfecho, no qual a
situação da vida da personagem, após a epifania, é reexaminada.