quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Estilo Individual


O objetivo de Clarice, em suas obras, é o de atingir as regiões mais profundas da mente das personagens para aí sondar complexos mecanismos psicológicos. É essa procura que determina as características especificas de seu estilo.

O enredo tem importância secundária. As ações-quando ocorrerem- destina-se a ilustrar características psicológicas da personagem. São comuns em Clarice histórias sem começo, meio ou fim. Por isso, ela se dizia, mais que uma escritora, uma “sentidora”, porque registrava em palavras aquilo que sentia. Mais que histórias, seu livros apresentam impressões.

Predomina em sua obra o tempo psicológico, visto que o narrador segue o fluxo do pensamento e o monólogo interior das personagens. Logo, o enredo pode fragmentar--se. O espaço exterior também tem importância secundária, uma vez que a narrativa concentra-se no espaço mental das personagens. Características físicas das personagens ficam em segundo plano. Muitos personagens não apresentam sequer nome.

As personagens criadas por Clarice Lispector descobrem-se num mundo absurdo; esta descoberta dá-se normalmente diante de um fato inusitado- pelo menos inusitado pela personagem. Aí acontece a “epifania”, classificado como o momento em que a personagens sente uma luz iluminadora de sua consciência e que a fará despertar para a vida e situações a ela pertencentes que em outra instância não fariam a menor diferença.

Esse fato provoca um desequilíbrio interior que mudará a vida da personagem para sempre. Para Clarice, “Não é fácil escrever. É duro quebrar rochas. Mas voam faíscas e lascas como aços espelhados”. “Mas já que se há de escrever, que ao menos não se espague com palavras as entrelinhas”. “Minha liberdade é escrever. A palavra é o meu domínio sobre o mundo.”

Para traduzir os estados emocionais do personagem, Clarice utilizará todos os recursos possíveis:

a)      Emprego da técnica surrealista, em que a narrativa vai brotando à mercê do fluxo de consciência.

b)      A linguagem, como é comum no (Pós) Modernismo, apresenta traços da linguagem colonial em que normas morfossintáticas não são observadas. A autora pretende adequar a linguagem à personagem, fazendo registro do seu modo de falar.

c)       A autora não se preocupa em contar uma história.

d)      Uso de metáforas incomuns e questionamentos filosóficos metafísicos.

e)      Monólogos interiores e discurso narrativo que busca a criação de uma supra realidade pessoal e poética.

f)       Busca consciente de liberação e de mutação na maneira de viver por parte das personagens que, no fundo, são a própria Clarice.

g)      Presença de seres frágeis e irracionais.

Resumidamente Clarice cria uma personagem que se encontra numa determinada situação cotidiana, preparando posteriormente um evento que é apresentado discretamente pela personagem (algo como uma inquietação). Ao decorrer desse fato, ocorre um momento que ilumina a sua vida (epifania). Apresenta-se um desfecho, no qual a situação da vida da personagem, após a epifania, é reexaminada.